PRESIDENTE: Jurema C. Gonzaga
CARNAVALESCO: Sidiney Rodrigues Rocha
Enredo
Carnaval 2016
Grande Otelo / O Talento em verde e branco
Sebastião
Bernardes de Souza Prata – Grande Otelo
(Uberlândia,
MG, 1915 – Rio de Janeiro – RJ. 1993)
Considerado
um dos maiores atores do século XX, Grande Otelo foi um artista multimídia,
tendo trabalhado no teatro, rádio, cinema e na televisão. Versátil e dono de
uma consagrada expressão facial e corporal, destacou – se como ator, cantor,
compositor, sambista e poeta. Seus personagens sempre tiveram um grande apelo
popular, desde os tempos de Teatro de Revista, quando participou da Companhia
Negra de Revistas, até quando interpretou Macunaíma no cinema em 1969. Grande
Otelo foi pioneiro e desbravador, primeiro artista negro a ocupar espaço de
destaque no cinema e na televisão brasileira.
Desde
a infância vivida em Uberlândia, sua cidade natal, Sebastião sempre fora
atraído pela rua e pelas manifestações populares, como o carnaval e as
congadas. Ainda pequeno foi considerado um menino prodígio, pois atingiu a
maturidade artística muito cedo. O filme “O Garoto”, de Charles Chaplin,
apareceu como uma influência decisiva no seu encantamento pela carreira de
ator. Outra grande influência foi o ator mirim norte americano Allen Clayton
Hoskins, que participava da série “Our Gang”. Otelo teve sua primeira
experiência como ator aos sete anos, fazendo participação no circo que passava
pela sua cidade natal.
Na
ocasião, Bastiãozinho, como era conhecido, apareceu vestido de mulher
interpretando a esposa do palhaço, o que causou enorme comicidade e sucesso.
Em
São Paulo, aonde veio residir ao lado da família Gonçalves que o adotara,
Bastiãozinho ganhou o nome artístico Otelo, que o acompanharia ao longo da
carreira. O apelido surgiu na Companhia Lírica Nacional, onde o garoto tomava
aulas de canto lírico. Devido á sua voz de tenorino, o maestro julgou que um
dia o menino cresceria e cantaria a ópera Otelo de Giuseppe Verdi. Pela
estatura pequena, o apelido inicial foi Pequeno Otelo. Mais tarde, a crítica
carioca, através de Jardel Jércolis, o denominou Grande Otelo.
Contrariando
a previsão do maestro, o menino não só não cresceu, como resolveu cantar samba
e ser ator. Foi então que em 1926, com apenas onze anos tomou parte, com grande
sucesso, numa importante companhia de teatro de revistas, a Companhia Negra de
Revista, composta exclusivamente por negros, como Pixinguinha, que atuava como
maestro, Donga, músico e Rosa Negra, atriz e cantora. Mais tarde, na década de
30, foi trabalhando na companhia de teatro de revista de Jardel Jércolis que
Otelo chegou a artista ao Rio de Janeiro, realizando seu sonho de infância.
Acidade
maravilhosa logo seria adotada como a cidade de Grande Otelo, espaço ideal para
o menino de Uberlândia que sonhava em ser um grande artista. Apreciador da vida
noturna da cidade, Otelo foi também um de seus atores, seja na famosa gafieira
do Elite, no bar Vermelhinho ou nos bares da Lapa. Entre 1938 e 1946,
paralelamente a trabalhos na Rádio Nacional, Rádio Tupi e outras emissoras, o
artista foi contratado do antigo Cassino da Urca, onde realizou diferentes
espetáculos, sempre com destaque. Foi lá , em 1939, que Otelo contracenou com a
famosa atriz e dançarina norte – americana Josephine Baker, momento citado por
ele como um dos mais importantes de sua carreira. Ao longo desta mesma
temporada no Cassino da Urca, Grande Otelo compôs, em parceria com seu grande
amigo Herivelto Martins, o famoso samba Praça onze que faria muito sucesso no
carnaval de 1942. É importante registrar que na época negros não podiam entrar
pela porta da frente do Cassino da Urca, fato que só passou a acontecer depois
que Grande Otelo foi contratado para atuar no palco do Cassino.
No
cinema, Grande Otelo foi uma das grandes estrelas da Atlântida cinematográfica,
tendo protagonizado o primeiro grande sucesso da produtora, o filme “Moleque
Tião (1943)”, de José Carlos Burle. Também na Atlântida, Otelo formou, ao lado
de Oscarito, a dupla mais famosa e bem sucedida do cinema brasileiro, que estrelou
sucessos como Este Mundo é um pandeiro (1946) de Watson Macedo, Três vagabundos
(1952) de José Carlos Burle, A Dupla do Barulho (1953) e Matar ou Correr (1954)
de Carlos Manga. Em 1949 Otelo estrelou o filme Também somos irmãos ao lado de
Ruth de Souza. O filme denunciou o racismo existente no Brasil e foi
considerado o melhor filme brasileiro do ano pela crítica especializada, embora
não tenha obtido sucesso de público.
Após deixar a Atlântida em 1955, Grande Otelo ainda participaria de inúmeros filmes, com destaque para o clássico Rio, Zona Norte (1957) do cineasta Nelson pereira dos Santos, considerado o filme que inaugurou o Cinema Novo. Outros grandes sucessos foram Assalto ao trem pagador (1962) de Roberto Farias e Macunaíma (1969), adaptação da obra prima de Mário de Andrade, dirigido por Joaquim de Andrade, e que lhe rendeu o prêmio de melhor ator do cinema brasileiro do ano. Curiosamente, Grande Otelo também participou do inacabado It´s all true (1942) filmado no Brasil pelo renomado diretor norte americano Orson Welles, que o classificou como um dos maiores atores do mundo.
O teatro sua primeira paixão, não deixaria de contar com suas belas interpretações. Entre 1946 até o final de sua carreira o artista brilhou em inúmeras peças e trabalhou com os mais diferentes diretores, como Walter Pinto, Juan Daniel, Carlos Machado, Geisa Bôscoli e Chico Anísio. Algumas de suas peças de bastante sucesso foram, entre muitas outras: Um milhão de mulheres (1947), Muié Macho, Sim Sinhô (1950), Banzo aiê (1956) e O Homem de La Mancha (1973). Na década de 50, Grande Otelo passou a atuar também na televisão em emissoras como a TV Tupi do Rio e TV Rio. Em 1965 foi contratado pela Rede Globo, participando de inúmeras novelas e programas humorísticos. Em 1986 participou da novela Sinhá Moça, de enorme sucesso, onde contracenou mais uma vez com a atriz e amiga Ruth de Souza.
Apesar de inúmeros sucessos, a carreira de Grande Otelo foi marcada por altos e baixos. Sua indisciplina, seu gosto pela boemia e pela bebida fizeram com que faltasse muito a ensaios e apresentações, o que gerou a fama de irresponsável, injusta, em sua opinião. Umbandista, foi através da religião, na cabana de Pai Jatum, que diminuiu o consumo de bebida alcoólica, no final da carreira. Recebeu inúmeras homenagens e prêmios pelo conjunto de sua obra. Morreu em 1993, vítima de uma parada cardíaca.